30.3.20

O que estou a ler: A amante Colombiana

“Finalmente, ao fim de muitos anos, aconteceu uma coisa absolutamente inesperada. Por vezes uma pequeníssima mudança é o suficiente. Dissemina-se pela trama imensa de recordações e hábitos que é uma pessoa. Irresistivelmente. E muda toda uma vida. Nada há que permaneça. O mundo real não tem recordações. Vem sem etiquetas.»
Começa assim, Lars Gustafsson, em "A amante colombiana".
«Estava bem, estava esmagadoramente bem. Estava tudo bem. Mas havia também qualquer coisa de desagradável. Esta passagem de uma forma habitual de se relacionar com uma pessoa para outra. Como por acaso, tinha dado o salto de um quase desconhecimento para uma espécie de conhecimento profundo. Tinha saltado por cima de tudo o que se encontrava entre as duas coisas. E esse «entre» era grande como os oceanos e os continentes. Ao mesmo tempo, era justamente o desconhecimento que se tornava aliciante. Dava-lhe um pouco a sensação de se preencher com o conteúdo de outra pessoa. Ou de, por um momento, entregar o seu próprio conteúdo, já por demais conhecido, a alguém totalmente desconhecido.”


Neste romance, há uma reflexão inteligente e melancólica, sobre os contrastes deste nosso tempo. No qual - como diz o autor, com amarga ironia - " há um mundo para os congressistas, os empresários, os peritos que viajam regularmente, os clientes dos hotéis, os que andam sempre com o telefone móvel, e um outro mundo, onde as pessoas atravessam fronteiras em fuga. Sendo que um desses mundos até viaja para dar conferências sobre o outro"

Lars Gustafsson é natural da Suécia, nasceu em 1936, morreu em 2016, e a sua obra desdobra-se entre o romance, a filosofia - de que foi também professor, na universidade do Texas - e a poesia.

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