A chuva é carcereira, fechando a gente. Prisioneiros da chuva estavam Constante Bene e seus todos filhos, encerrados na cabana. Nunca tamanha água fora vista: a paisagem pingava há dezassete dias. Mal ensinada a nadar, a água magoava a terra. Sobre as telhas de zinco, se acotovelavam grossas gotas de céu. Na encosta do monte, só as árvores teimavam, sem nunca se interromperem.
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Mas a bandeira se confirmava, em prodígio de estrela, mostrando que o destino de um sol é nunca ser olhado.
Mia Couto.
Mia Couto é um escritor africano de língua portuguesa. Escreve no "dialeto moçambicano" da Língua e a sua escrita é mesclada com regionalismos e adaptações locais. A diversidade do léxico de Mia Couto, só é compreensível à luz do universo criado pela extraordinária riqueza das suas "estórias" e estas, são muito mais que narrativas, pois são transmitidas usando um vocabulário e um imaginário indissociáveis um do outro.
Nesta coletânea de 11 contos, datados de 1990, Mia Couto encanta-nos ao produzir realidades supra-reais, de grande densidade humana.
"A minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual", são afirmações representativas da fragmentação das identidades no mundo pós-moderno. A universalidade destes contos, está claramente declarada no título da obra.
Para perceber a subtiliza destas questões e disfrutar de uma leitura agradável, nada como os contos de Mia Couto.