23.7.20

Fragmentos


George Steiner, Relógio d’Água, 2016



Numa entrevista concedida a Wim Kayser, Georges Steiner (morreu em Fevereiro deste ano) afirma: “[…] quem não tem um intelecto sistemático, e provavelmente eu não tenho, conta histórias”.

É através da ficção que o Homem consegue descodificar os factos. A parábola, a metáfora, são luzes sobre a verdade, uma verdade que não é absoluta, é dinâmica. E assim vai sendo o seu olhar.

Em Fragmentos, afirma” A nossa própria existência é um ato de leitura contínua do mundo, um exercício em decifração, em interpretação no interior de uma câmara de eco, cujo volume de mensagens, de entradas semióticas, é incomensurável”.

Este livro é um exercício de reflexão aliado a uma fabulosa fantasia literária.

Georges Steiner, “inventa” Epicarno de Agra, moralista e orador do séc. II d.C, como alguém que reuniu uma série de reflexões num pergaminho incompleto, posteriormente encontrado nas ruínas de uma cidade romana – Herculano. Utiliza este estratagema para falar sobre alguns grandes temas da cultura e do pensamento humano.

A eloquência do silêncio, a amizade, o amor, a importância da educação e a raridade do talento, a realidade ontológica do mal e a omnipotência do dinheiro, os perigos da religião e a transcendência da música. E finalmente, a morte, a decadência, a velhice.

Os seus pensamentos são fios condutores para uma reflexão emocionada sobre o mundo.

Questiona-nos em cada linha, em cada parágrafo, cada tema abordado vem da antiguidade com uma imensa atualidade. Leitura muito motivadora.