9.11.20

Jacques o fatalista

de Denis Diderot

“Jacques o fatalista”, é um romance de Denis Diderot, escrito durante o período de 1765-1780. A primeira edição francesa foi publicada postumamente em 1796.

Jacques e o mestre viajam para um destino que se desconhece. Para dissipar o tédio da viagem, Jacques é instigado por seu mestre a contar a história de seus amores. No entanto, a história de Jacques é continuamente interrompida por outros personagens e vários percalços cómicos. O livro está repleto de dualidades e contradições.
Para Jacques, tudo o que acontece, seja para o bem ou para o mal, foi escrito ‘lá em cima’ ("tout ce qui nous chegue de bien et de mal ici-bas était écrit là-haut.) No entanto, Jacques ainda valoriza suas ações e não é um personagem passivo.
Na sua edição da Tinta da China de 2009, foi traduzido por Pedro Tamen e prefaciado por Eduardo Prado Coelho.
“Que é que impede a estabilização da verdade? Acima de tudo, o prazer de falar. Esse prazer pode ser uma verdadeira paixão. E tem uma característica – não olha a obstáculos: ‘Não há gente que mais goste de falar que os gagos, não há gente que mais goste de andar que os coxos.’ Falar, conversar. Porque a conversa tem uma característica absolutamente extraordinária: ao mesmo tempo que reúne tudo, dispersa tudo. A conversa dispara em todas as direcções, a gente atravessa a com o fio de uma ideia, mas a ideia vai se disseminando no decurso da travessia. E a dada altura, como se explica logo nas primeiras linhas deste livro, ninguém sabe para onde vai nem donde vem, nem em que ponto é que está. […] Trata se de amar as palavras naquilo que elas têm de desajustamento em relação à realidade, e de compreender que essa realidade se transforma à medida que nós usamos as palavras em configurações diferentes. Trata se de perceber que as palavras não servem apenas para referenciar a realidade, mas também, e sobretudo, para gerir distâncias (é essa a verdadeira definição da retórica) e para aproximar ou afastar as pessoas. Trata se ainda de não pretender privilegiar apenas o que é útil, mas de ver até que ponto o inútil é tão útil como o útil (ou, se preferirem, o útil é tão inútil como o inútil). E é tudo isto que nos prende apaixonadamente à longa digressão que é este livro. Sentido de perder tempo, evidentemente. Mas sentido também de ir ao encontro do prazer do tempo perdido. […] Em Jacques, o Fatalista, Diderot fala, conversa, dança com as palavras, traça figuras de uma coreografia arrebatadora. Diderot não nos deixa repousar um minuto: as personagens saltam, desaparecem, morrem, amam, enganam se, agridem, ressuscitam, e tudo se processa numa agilidade e desenvoltura absolutamente surpreendentes. […] O essencial não está, portanto, na estabilização, mas num valor precisamente oposto: na velocidade com que o jogo continua a ser jogado.”
Eduardo Prado Coelho