“D. Quixote de la Mancha” de Miguel de Cervantes, ed. Bertrand, 2015
Considerado o primeiro romance moderno, D. Quixote de La Mancha foi eleito em 2002 o melhor livro de todos os tempos por um conjunto de cem escritores nomeados pelo Instituto Nobel. D. Quixote, um fidalgo de Castela assanhado pela leitura de romances de cavalaria, decide que é seu "ofício e exercício andar pelo mundo endireitando tortos, e desfazendo agravos" e parte à aventura na companhia de seu fiel e prosaico escudeiro, Sancho Pança. As hilariantes maluquices do Cavaleiro Andante liquidam, com a sua "moral do fracasso", as últimas ilusões da epopeia: aquilo a que Adorno chama "a ingenuidade épica". Depois de D. Quixote , nada mais será igual.
Tradução de Aquilino Ribeiro, considerada uma das melhores traduções da obra para a língua portuguesa. Versão ilustrada (ilustrações de Gustave Doré)
“Publicada em 1605, a primeira parte do “Quixote”, com os seus elementos paródicos, fazia a transição entre modelos narrativos antigos (novelas pastoris, romances de cavalaria) e a literatura moderna. Mas a genialidade intemporal de Cervantes manifesta-se dez anos mais tarde, em 1615, com a edição da segunda parte da obra. Tendo o primeiro livro obtido um êxito enorme em toda a Espanha, as personagens que se cruzam com a dupla Quixote/Pança leram-no; ou seja, já conhecem os seus feitos, os seus falhanços, e aproveitam esse conhecimento para lhes criarem novos embaraços. Dito por outras palavras, Cervantes inventou, há quatro séculos, a metaficção. Querem algo mais moderno do que isto? Aliás, ainda na primeira parte, quando o barbeiro revista a biblioteca de Quijano, para lhe queimar os livros, encontra o primeiro romance de Cervantes (“A Galateia”) e poupa-o. A multiplicação dos narradores, bem como o seu carácter ambíguo, é outra marca de modernidade. “El Ingenioso Don Quijote de La Mancha” foi provavelmente o primeiro de todos os romances dignos desse nome. Podia ser o último.” – Pedro Mexia