6.5.20

Para os mais novos: "Um lugar Mágico"

Sugestões de leitura para público jovem adulto

Comentários pessoais ao seu conteúdo e adaptação à realidade

Um Lugar MágicoA natureza como refúgio para humanos e animais

“(…) Mal se viu na rua, Rick reparou que qualquer coisa tinha mudado. Nas janelas havia muitas flores e os passeios estavam cheios de gente. Perturbado com tanta confusão, Rick procurou a mão da tia Cip, que lha apertou logo. Era bom andar assim, de mãos dadas. Rick estava emocionado. (…)

- Para onde é que vamos, tia? – disse então Rick, sentindo um calorzinho na barriga.

- É uma surpresa – disse Amália.

- Uma surpresona – acrescentou Ursula, pegando-lhe na outra mão.

A surpresa era a Vila Alegre.

Quando lá chegaram, já havia uma multidão enorme. (…)
Quando chegaram a uma clareira que não estava ocupada, sentaram-se na erva e a tia Cip abriu o cesto da merenda que tinham levado. Depois de ter comido, Ursula subiu a uma árvore e os outros deitaram-se na relva. Era o pôr-do-sol de um dia de Abril e uma brisa morna acariciava o parque. (…)

O vento levava até lá as vozes das crianças que andavam a brincar. Rick fechou os olhos. Aqueles ruídos, aqueles cheiros eram os ruídos e os cheiros do Círculo Mágico. (…) Quantas vezes tinha visto as crianças a correr umas atrás das outras, a andar de bicicleta, a dar pontapés numa bola.
Aquele mundo tinha-lhe parecido tão longe, tão inacessível. Mas agora já sabia que aquele mundo era o seu mundo. (…) O mundo é redondo, é um círculo, uma roda. Tudo desaparece e tudo volta, tudo acaba, para recomeçar mais uma vez.” Pp. 131-134
Um lugar mágico: ou como salvar a natureza, de Susanna Tamaro

Ed. Presença, 1998, Coleção Estrela-do-mar, nº 4

NB: A 8.ª ed., de 2002 indica Recomendado pelo PNL, literatura juvenil

Comentário: Susanna Tamaro é uma das minhas escritoras preferidas no que se refere a obras de literatura italiana. Um lugar mágico (Il Cerchio Magico no original) é uma obra que foi editada pela primeira vez em Itália no ano de 1994.
A autora fala-nos de um santuário da Natureza que, embora seja um lugar real, permanecera durante muito tempo inacessível aos humanos. Perdido no meio de uma grande cidade, o Círculo Mágico representava um refúgio para muitos animais (peixes vermelhos, grilos, tartarugas, esquilos, entre outros). Diz-se na obra que, por medo, os humanos não entravam lá. Estavam habituados a viver num habitat de betão, repleto de “Super-Mega-Hiper-Mercados, televisões e antenas parabólicas”.
Transcrevi este excerto pois ocorre-me uma comparação com os tempos atuais. Tal como os homens desta história, também muitos de nós, a uma escala mundial, muitas vezes esquecemos que cada habitat engloba condições físicas e geográficas favoráveis à vida e ao desenvolvimento das diferentes espécies. E que o planeta é, indiscutivelmente, um refúgio, um Círculo Mágico tanto para animais como para humanos.
Contudo, temos consciência que anteriormente a esta situação de quarentena, que o mundo está a atravessar, muitos de nós não se davam conta de como a tranquilidade desse refúgio estaria a ser cada vez mais perturbada pelo nosso estilo de vida desenfreado, ainda sem muita disciplina em matéria de comportamentos sustentáveis para com o meio ambiente (ainda, volvidos 26 anos da primeira edição desta obra)! Por conta da COVID-19 o mundo viu-se forçado a um confinamento, a um acompanhar diário de informação para saber o que fazer, a um recolher a si próprio, à sua casa, às suas reflexões, num isolamento social prolongado… O Círculo Mágico, entretanto, tem estado a regenerar-se ao seu ritmo.
Um dia, eventualmente, iremos regressar à “clareira” tal como as personagens Rick, tia Cip, Amália e Ursula. E será possível passear juntos na natureza, “reentrar” na vida de quem não vemos há algum tempo, dar a mão, beijar e abraçar quem estimamos na nossa Vila Alegre; esta desapareceu por uns tempos mas há-de regressar! Num dia de abril? Num dia de maio? Não sabemos ao certo… Por enquanto é importante que continuemos a proceder conforme as orientações e recomendações emitidas (e atualizadas) pelas autoridades competentes.
Paula Albino