de Maria Judite de Carvalho
Crónicas ou narrativas, os textos de Maria Judite de Carvalho (18 de Setembro de 1921 - 18 de Janeiro de 1998) discorrem fundamentalmente sobre casos humanos de solidão – predominantemente femininos – e sobre o desajustamento existencial que lhes é inerente no quadro do quotidiano social e num registo sentidamente amargo, ainda quando temperado pela ironia ou pela mordacidade. "Vivia como espectadora, sempre cética e desencantada...".
Do livro, “Tanta Gente Mariana”:
“Detesto as boas donas de casa. Se são pobres, esfalfam-se a trabalhar, se são remediadas ou ricas arranjam uma ou mais pessoas para se esfalfarem em seu lugar. De qualquer dos modos são escravas do trabalho ou então da vigilância com outras escravas às suas ordens. A vida a correr lá fora, os maridos e os filhos a correrem com a vida, metidos nela, e as donas de casa a esfregar, a limpar, a dar brilho aos metais. Ou a ver as outras fazê-lo. Olhe que o pó não está bem limpo. Olhe que a torneira não está bem areada. Isto não pode continuar assim, isto tem de acabar, olá se tem!. O que a vida já correu e elas sem a verem. Sem darem por nada. Ficaram sozinhas e não se dão conta. O marido morreu sem nunca ali ter estado, os filhos fugiram para casar com outras donas de casa que estavam escondidas dentro de raparigas bonitas, alegres e apaixonadas. E a vida continua. Olhe que isto não pode continuar assim, olhe que isto tem de acabar, olá se tem. E os filhos dos filhos a pensarem em fugir e a sonharem com outras raparigas apaixonadas.”
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