Arquivo do Diário de Notícias
passa a “tesouro nacional”
(artigo de Isabel Salema. jornal Público, 15 de julho de 2022)
“Governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, a classificação do arquivo do Diário de Notícias (DN), o mais antigo diário nacional em actividade. O bem terá o selo de tesouro nacional, “a mais alta classificação que existe na Lei de Bases do Património Cultural”, explicou ao PÚBLICO Silvestre Lacerda, responsável máximo pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e, por inerência, director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
O comunicado do Governo refere apenas que foi “aprovado o decreto
que classifica como bem arquivístico de interesse nacional o arquivo do
DN de 1864 a 2003”, mas a lei em causa só será publicada posteriormente em Diário da República. O arquivo do DN é actualmente propriedade do grupo Global Media, que além daquele diário detém o Jornal de Notícias (JN), a TSF e outros meios de comunicação social.
A decisão teve o “parecer favorável” da secção de arquivos do Conselho Nacional de Cultura, adiantou Silvestre Lacerda, recordando que a protecção do arquivo foi pedida em 2020 por um grupo de cidadãos que incluía ex-Presidentes da República, historiadores e jornalistas. O requerimento subscrito por Jorge Sampaio, Ramalho Eanes, Fernando Rosas,
Irene Pimentel, Pacheco Pereira, Adelino Gomes e Mário Mesquita, entre outros, reclamava a “urgente classificação” do arquivo do jornal de referência português fundado em 1864.
Segundo o decreto-lei a que o PÚBLICO teve acesso, a classificação integra o “arquivo da redacção”, o “património de natureza fotográfica”, o “arquivo administrativo” e outra documentação sediada em fundos privados, como o espólio de Alfredo da Cunha, um dos primeiros directores do jornal.
O arquivo da redacção “inclui dossiers temáticos, recortes de imprensa, recortes de censura , desenhos originais de inúmeras individualidades, que foram utilizadas em ilustrações no jornal, colecções completas das publicações do Diário de Notícias e outras publicações da empresa, desenvolvidas no âmbito da sua actividade editorial, até 2003”, ano em que a empresa DN foi extinta e fundada a empresa JN. O arquivo fotográfico “integra documentos maioritariamente posteriores aos anos de 1920, nos quais se incluem negativos de gelatina de sal de prata em vidro e em película, chapas de vidro históricas, provas de papel, bobines de microfilme e documentos electrónicos”.
O arquivo do DN é um “testemunho notável de vivências ou factos históricos”, lê-se no decreto. A sua classificação cumpre os parâmetros exigidos aos bens arquivísticos de interesse nacional: o “valor estético, técnico ou material intrínseco”, a relevância
do ponto de vista “da memória colectiva”, a “importância na perspectiva da investigação histórica e científica” e a existência de “circunstâncias susceptíveis de acarretarem diminuição ou perda da perenidade ou da integridade do bem”.
O grupo Global Media, liderado por Marco Galinha, atravessa uma fase conturbada. No início do mês, a administração propôs aos trabalhadores um programa de rescisões por mútuo acordo, justificado pelo agravamento dos custos provocados pela guerra na
Ucrânia e pela subida dos preços.”
in: jornal Publico
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