"A lentidão"
de Milan Kundera
ed: Asa, 2002
Uma fantasia libertina que é também uma meditação sobre o ritmo da vida contemporânea. Em A Lentidão Kundera usa, ao mesmo tempo, um romance libertino do século XVIII e uma viagem que ele e a mulher fazem a um castelo em França, transformado em hotel, para dar vida a uma série de personagens do passado e do presente que se cruzam num colóquio de entomologistas realizado num dos salões desse castelo.
Personagens e histórias entrelaçam-se de tal forma que ninguém se surpreende, por exemplo, que um homem de capacete, nervoso e impaciente, acelerando a toda a velocidade a sua moto, se afaste, enquanto outro, com uma peruca branca, sonolento e ensimesmado, sobe para uma sege que parece saída de uma gravura do passado: o primeiro deseja, sem dúvida, abandonar alguma coisa com urgência; o segundo, no entanto, parece disposto a recordar, ao ritmo lento do cavalo, a noite que acaba de passar com a misteriosa e sedutora Senhora de T.
Desconcertado e encantado, o leitor segue o narrador através de uma noite de verão em que duas histórias de sedução, separadas por mais de duzentos anos, se entrelaçam e oscilam entre o sublime e o cómico. Mas subjacente a esta fantasia libertina está uma profunda meditação sobre os efeitos da modernidade na nossa perceção do mundo; sobre o vínculo secreto entre lentidão e memória; sobre a ligação entre o desejo contemporâneo de esquecer e o modo como nos entregamos ao demónio da velocidade.
in: bertrand.pt
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