"Memórias póstumas de Brás Cubas"
de Machado de Assis
Quando, em 1981, Carlos Oliveira morreu, Augusto Abelaira escreveu, no JL, que Finisterra era o melhor romance da literatura portuguesa e não se estava a esquecer dos Maias. Já li que Finisterra não prestava. Eu li-o duas vezes, em 1981, pela sugestão do Abelaira: quando fui de comboio a Lisboa e quando, nesse dia, regressei de Lisboa. Não o compreendi, como não compreendi o Grande Gatsby. E muitos mais que a vergonha me impede de enumerar.
Sobre Machado de Assis, já li ser o melhor escritor/romancista da língua portuguesa, sem nos esquecermos do Eça, pois claro. Neste posfácio, di-lo Abel Barros Baptista, sem tibiezas: “…porque Machado, para muitos, ainda é o maior escritor brasileiro de sempre e, para alguns, entre os quais se inclui o autor destas linhas, o maior romancista da língua portuguesa”.
Este livro (romance, crónica de costumes, sei lá…) tem várias coisas interessantes. Desde logo, a ideia. Alguém a discorrer sobre as suas memórias depois de morto! Depois, uma observação fina, humorística, irónica sobre a sociedade brasileira e sua classe média/alta. Acresça-se que se compõe de capítulos breves, muitos que nem uma página ocupam, o que torna a leitura escorreita.
No meio, os amores do Brás, a sua paixão assolapada por uma antiga pretendente, casada, a Virgília. Rico, crítico da sociedade, sem esconder alguma ambição social e política. O livro, que nos cativa, prende do princípio ao fim. Uma leitura recomendável a fazer lembrar os romances da época, do séc. XIX.
por Carlos Lopes