O protagonista deste livro, Hanta, trabalha na cave de um depósito de reciclagem. “Durante trinta e cinco anos prensei papel velho, e se eu tivesse que optar de novo não quereria fazer outra coisa senão aquilo que fiz nestes trinta e cinco anos”. Trabalha com uma velha prensa e os seus dias passam-se a comprimir livros e papéis, e a beber cerveja.
“Mas tal como na corrente turva de um rio que acaba de passar pelas fábricas de repente cintila um belo peixinho, assim também na corrente de papel velho brilha, subitamente, a lombada de um livro raro. Como que ofuscado, olho por uns momentos para outro lado e depois leio a primeira frase em que se fixam os meus olhos como um presságio homérico, e só depois deposito o livro entre outros belos achados numa caixa forrada com imagens santas que, por engano, alguém despejou na minha cave juntamente com os livros de preces. Depois começa a minha missa, o meu ritual, tenho não só que ler cada um desses livros, mas também colocá-los num dos pacotes, porque cada pacote que faço tem que ser embelezado, tenho que lhe dar o meu cunho pessoal, a minha assinatura”.
A instalação de uma grande prensa, operada por jovens operários que alimentam a máquina de forma automática, tornam inútil a sua função – alusão à realidade após 1968 – e esta realidade remete-o para a uma tipografia onde apenas pode empacotar papel branco. Logo ele, que não podia passar sem a surpresa de poder, no meio do papel, encontrar um belo livro. Ele escolhe, juntar-se aos seus livros.
Esta narrativa está repleta de pequenas histórias que mostram um quotidiano minucioso, em mudança, que paira ao longo da história de forma mágica e ao mesmo tempo que sorrimos, sente-se uma angústia, o peso da indiferença da falta de tempo ou gosto de folhear livros, de sonhar.
Bohumil Hrabal, escritor Checo - nascido em 1914, morreu em Praga em 1997 - disse uma vez:
"Quando penetro com os olhos num verdadeiro livro, quando afasto as páginas impressas, do texto nada mais sobra do que ideias imateriais que esvoaçam no ar, repousam no ar, se alimentam do ar e para o ar regressam."
O jornal Libération referiu-se a Bohumil Hrabal, como “um cronista malicioso e um caricaturista comovente". Um excelente autor e um belo livro, a não perder