16.11.20

Adília Lopes, a sua poesia e o “O Poeta de Pondichéry”

“O Poeta de Pondichéry” A poesia de Adília Lopes.

Entre os livros de poesia de Adília Lopes gostei muito de “O Poeta de Pondichéry”. Terá sido a sua obra mais traduzida baseada na personagem de “Jacques o fatalista” de Denis Diderot. Em 2015 é reeditado pela Assírio & Alvim numa edição para os mais pequenos - e não só - com os desenhos de Pedro Proença.

Adília Lopes e a sua poesia têm sido alvo de vários estudos e análise literária e é um nome de referência na poesia portuguesa do final do século XX e do século XXI. Aparentemente coloquial e naïf, os seus textos estão repletos de jogos fonéticos, associações livres, rimas infantis e idiomas estrangeiros. Os temas do quotidiano, predominantemente feminino e doméstico, são abordados com ironia, candura, crueza e inteligência. Como ela diz “há sempre uma grande carga de violência, de dor, de seriedade e de santidade naquilo que escrevo”.

“Nascida no ano de 1960, adotaria, em 1983, o pseudônimo Adília Lopes. O eu biográfico, cuja formação literária apresenta uma predileção por autores da tradição e, também, por nomes da cultura moderna e pós-moderna, entrelaça-se com os vários outros sujeitos poéticos criados por Adília Lopes. Em várias entrevistas, essa poetisa afirma possuir vários ‘eus’ que convivem uns com os outros de forma que essas várias personalidades se alternam nos seus discursos poéticos. Esta multiplicidade de vozes e de subjetividades mistas criam uma ‘nova’ realidade poética. Neste trabalho, observaremos como Adília Lopes tece uma poética feita de misturas textuais e discursivas, mediadas pelo pastiche, para expressar um sentir lírico particular, diferenciando-a de vários outros poetas portugueses de fins do século XX e de início do século XXI. […]” Paulo Alberto da Silva Sales (Doutorando Em estudos Literários, Universidade Federal de Goias, Brasil).

Os três poemas […] abaixo, são exemplo da versão lírica da poetisa portuguesa contemporânea Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira ou Adília Lopes.

“Fedra está apaixonada/ por Hipólito/ Hipólito não está apaixonado/ por Fedra/ Fedra enforca-se/ Hipólito morre/ num acidente.

Dido está apaixonada/ por Eneias/ Eneias não está apaixonado/ por Dido/ Dido oferece uma espada/ a Eneias/ Eneias esquece-se da espada/ quando vai embora/ Dido suicida-se/ com a espada esquecida/ por Eneias.

Um desgosto de amor/ atirou-me para um/ curso de dactilografia/ consolo-me/ a escrever automaticamente/ o pior são os tempos livres.

Nas noites de S. João /Marianna Alcoforado/ queima alcachofras

Nasci em Portugal/ não me chamo Adília / Sou uma personagem de ficção científica / escrevo para me casar”

Adília Lopes